Duas semanas depois....

Fiquei quieto e só falei com quem me perguntou sobre...
Mas quase todo mundo que me conhece ficou sabendo.
E como sempre tem as pessoas que não ficaram sabendo...

Sim... mais uma vez eu quase fui...
Quase... outra vez...
Sorte? Deus? Anjos da guarda? Segunda chance?
Milhões de pessoas me falaram sobre isso nessas duas semanas que se passaram...
Me pergunto bastante sobre a existência de uma terceira chance... e a única conclusão que consigo chegar é de que terceiras chances quase não existem, e quando existem elas só vem confirmar que o que aconteceu na primeira e segunda chance são verdades absolutas e imutáveis... por que as coisas realmente não mudam...
Algumas pessoas mudam sim, evoluem... mas tudo que não é pra evoluir continua estático. Tudo igual. Tão normal...

Então da onde vem essa estranheza que vejo em tudo?
Quem foi que colocou aqui esse mundo que não existia antes?
Quem foi que fez as coisas ficarem assim, com essas cores, que não fui eu quem pintou?
Perguntas, perguntas, perguntas e nenhuma ou quase nenhuma resposta...
Eu sempre disse que me cansei de procurar respostas e comecei a viver em função de descobrir as perguntas... e hoje eu posso dizer que descobri algumas...
Vejam só?! Não foi em vão... como nada nunca é em vão...
A primeira coisa que aprendi é que a pergunta a ser feita nunca deve começar com "por que" e sim com "pra que".
Pois nada é por acaso... e os "por ques" necessariamente exigem a presença de outrem que nos responda... os "pra ques" nós conseguimos responder sozinhos... somente nós mesmos podemos encontrar essas respostas.... e o mais importante de tudo:
Qualquer que seja o motivo que um "pra que" nos mostre, é sempre melhor que um porque sim, ou porque não.

Acho que "pra que" é a pergunta mais sensata a se fazer quando estamos sozinhos.
Já que é uma pergunta que podemos fazer a nós mesmos, sem esperar resposta de ninguém...
Descobri também nesse tempo que é sempre mais saudável não esperarmos nada dos outros
Assim, o pouco que conseguimos do outro é sempre mais agradável, porque tem o fator surpresa também, que causa uma sensação bem agradável e aos poucos eu estou aprendendo a conviver com as surpresas também...

O fato é que eu começo a descobrir finalmente pra que eu estou aqui...
Estou descobrindo pra que eu não morri mais uma vez...
Acho que nem que eu quisesse morrer eu não iria... pois ainda não fiz o que eu vim fazer...
São tantas coisas pra eu conseguir, e o mais importante é que eu já consigo ver quais são essas coisas...
Estão todas distantes... algumas mais, outras menos... mas eu sei o que são... isso é bom.

O mais estranho de tudo, é que antes do acidente acontecer, eu fiquei praticamente uma semana lembrando da cena do "Clube da Luta" em que o Tyler diz que nós só estamos prontos pra começar de novo quando sentimos que perdemos tudo... e irônicamente eu estava lembrando bastante da cena da capotagem do carro, em que eles capotam um carro pelo simples prazer de se sentirem vivos depois.

Pois bem, eu perdi tudo...
Tudo mesmo!
Não estou fazendo meu papelzinho de "Drama Queen", esse papelzinho é outra coisa que já nem me pertence mais...
Mas quem me conhece, e sabe como sou apegado à certas coisas sabe que eu perdi tudo... mas sabe o que é legal nisso?
Começo a ver as coisas que eu estou ganhando agora que não tenho mais nada...
Coisinhas bobas e insignificantes ganham um novo significado...
Palavras ganham novas conotações, cheiros trazem novas experiências e novas sensações...

Nada é como antes, e o que era antes me parecia tão bom... mas eu só penso isso por que eu já estava acostumado... já estava familiarizado com o olho do furacão...
Agora é melhor, apesar das intempéries... agora eu sei onde estou indo... e onde quer que eu vá eu levo comigo tudo que possuo...
Cabe no bolso de uma calça.... e sobra espaço no outro bolso pra meu celular, o maço de cigarros e meu isqueiro...

E quantidade não é nada.
Agora eu sei disso também... entre outras coisas.