terça-feira, 10 de abril de 2007

Madrugadas de ventos gelados e cortantes como navalha

O homem atravessa a rua escura enfiado em seu casaco preto, desbotado e pesado.
Atravessa a rua com passos firmes e lentos, porém sonoros...
Mesmo por que não se ouvia qualquer outro som em toda a cidade naquela madrugada fria e escura de outono.
Qualquer coisa seria sonora naquela madrugada...
O vento gelado passava por ele como que fazendo a curva pra não atrapalhar seu percurso... ou como se ele não pudesse ser tocado por aquele vento gelado e cortante... mas em alguns momentos parecia que o homem só caminhava naquela lentidão por causa do vento.
Seus cabelos molhados e penteados balançavam levemente e pareciam grama orvalhada sob a luz da lua que a toda hora se escondia atrás das densas nuvens que tinham tons de rosa e púrpura.
Ele chega ao outro lado da rua e vai seguindo com seus passos lentos e firmes, sem perceber que está sendo observado por mim.
Quando passa pela casa amarela com janelas pintadas de marrom ele repentinamente pára.
Olha para aquela casa como se morasse lá, tira um embrulho debaixo do casaco, coloca na porta da casa, toca a campainha e continua andando seu caminho até que seus passos já não emitam tanto som... até que todo o som seja engolido pela madrugada fria e faminta.
Uma mulher alta, de cabelos loiros e lisos sai à porta e pega o embrulho, tira um pedaço de papel que estava colado sobre ele e eleva-o a altura dos olhos.
Ela solta o embrulho que cai no chão emitindo um som de vidro se espatifando, que ecoou por toda a vizinhança, joga o papel no meio a rua, entra em casa e bate a porta.


Eu nunca consegui entender o que aconteceu naquela madrugada de outono...

Um comentário:

Daniela Yoko Taminato disse...

Certas coisas frágeis que são entregues na porta, muitas vezes são quebradas através da indelicadeza da ignorância.

E tudo aquilo que quebra, geralmente não volta a ser o mesmo.

Mas a gente continua por aí entregando nossas fragilidades nas portas de outros esperando por alguém que não nos quebre.

Esperemos!